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Abril Azul na DPU: Um olhar sensível à inclusão por meio da vivência do defensor Edilberto Alves da Silva

Teresina – O defensor público federal Edilberto Alves da Silva, da unidade da DPU em Teresina/PI, decidiu fazer todas as suas audiências de abril usando o cordão de identificação do autismo. O gesto, simples à primeira vista, carrega uma mensagem poderosa: a visibilidade transforma o olhar institucional sobre o autismo e inspira mudanças reais. Edilberto representa, assim, a consciência de que “lugar de autista é onde ele quiser”, inclusive na linha de frente da defesa dos direitos humanos. “Falar sobre autismo nas instituições públicas combate estigmas e estereótipos. É um passo essencial para uma sociedade mais justa e inclusiva”, defende Edilberto. 

Diagnosticado com autismo de nível de suporte 2* (nível substancial de apoio), Edilberto não apenas atua na defesa dos direitos das pessoas com deficiência, mas vive, diariamente, os desafios e as conquistas de ser um profissional neurodivergente* em um ambiente de alta exigência, onde a pressão para alcançar resultados, cumprir metas ou atingir determinados níveis de desempenho é elevada. “Falar sobre autismo nas instituições públicas combate estigmas e estereótipos. É um passo essencial para uma sociedade mais justa e inclusiva”, afirma.  

A partir de sua experiência pessoal, o defensor tem promovido iniciativas inclusivas na unidade, repensando o atendimento a pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA) e propondo melhorias simples, mas eficazes, que podem ser replicadas em toda a DPU. 

Autismo, rotina e vocação 

Com uma trajetória marcada por dedicação ao Direito e à defesa da dignidade humana, Edilberto Alves da Silva atua também como defensor regional de Direitos Humanos substituto no Piauí e é o ponto focal estadual do Grupo de Trabalho Atendimento à Pessoa Idosa e Pessoa com Deficiência (GTPID). O diagnóstico de autismo veio na vida adulta, após o filho — então com três anos — também receber o diagnóstico. Já em exercício como defensor público federal, Edilberto passou a adaptar sua rotina profissional para respeitar suas particularidades, como a hipersensibilidade sensorial, a necessidade de previsibilidade e o cansaço gerado por interações sociais intensas. A vivência do autismo passou, então, a ser não apenas uma realidade pessoal, mas um impulso para promover mais acolhimento e acessibilidade dentro da própria instituição. 

“A ausência de previsibilidade gera estresse e ansiedade. Divido meu trabalho em blocos, com intervalos, e controlo minha agenda para evitar sobrecarga. Isso faz toda a diferença”, conta o defensor Edilberto. O defensor destaca o impacto positivo da virtualização dos atendimentos e audiências, que reduzem estímulos sensoriais e possibilitam maior controle sobre o ambiente de trabalho. “Mesmo assim, após uma audiência ou reunião, é comum eu precisar de algum tempo para me recuperar, antes de voltar a trabalhar”, explica o defensor, que nunca deixou de atender os assistidos pessoalmente, também, “com o maior prazer”, enfatiza. 

O defensor Edilberto considera que demorou a falar sobre seu diagnóstico de autismo por medo de julgamentos capacitistas, inclusive um certo capacitismo que ele descobriu que tinha internalizado. “Tinha receio de que meu trabalho fosse avaliado pelo rótulo e não pela minha capacidade de efetivamente realizá-lo. Na sociedade, ainda é comum presumir que uma pessoa com deficiência é incapaz, mas é a capacidade que deve ser presumida”, considera o defensor. Edilberto também não queria ser visto como um “exemplo de superação”, outra face do capacitismo, pois ninguém com deficiência deve ser herói para ser valorizado, explica. 

Projetos de acolhimento: o cuidado com os pequenos assistidos com TEA 

Sensível às vivências das famílias de crianças com autismo, Edilberto começou a implementar práticas que humanizam o atendimento na unidade de Teresina. Um exemplo simples e eficaz foi a disponibilização de brinquedos sensoriais em seu gabinete, os stim toys, voltados à autorregulação de crianças autistas que acompanham seus responsáveis nos atendimentos. “Na maioria das vezes, a mãe não tem com quem deixar o filho autista. Essas crianças, ao saírem de sua rotina, enfrentam muitos estímulos. Ter algo que as acalme melhora o atendimento para todos”, afirma o defensor. 

Entre os planos, ele cita a aquisição de abafadores de ruído e a criação de espaços mais tranquilos para atendimento inclusivo desse público.  Segundo ele, não se trata de grandes reformas, apenas da promoção de mudanças de atitudes e desenvolvimento de protocolos de atendimento claros e previsíveis: um ambiente com menos estímulos, iluminação mais suave e a presença de brinquedos sensoriais já faz diferença e não depende de alto investimento. “Podemos pensar em disponibilizar horários específicos com menor movimento para evitar a sobrecarga sensorial, ou priorizar o atendimento virtual para pessoas autistas que assim desejarem”, exemplifica o defensor. “Mesmo sem grandes gastos, podemos tornar o atendimento mais empático e técnico. A chave está em ouvir as pessoas autistas”, ressalta. 

O defensor Edilberto entende que é possível promover adaptações imediatas, como a capacitação das equipes – defensores, servidores, estagiários, etc. – sobre TEA e comunicação inclusiva; criação de protocolos claros e previsíveis para o atendimento; ajustes ambientais simples (iluminação, ruído, mobília); opções de atendimento virtuais ou em horários mais calmos; e a adoção de uma postura empática, com escuta ativa e respeito. 

Inclusão não é um favor, é um direito 

Para Edilberto, o Abril Azul é um convite à ação permanente. “Não basta lembrar das pessoas autistas em abril. Inclusão é tarefa para o ano todo. É preciso empatia, respeito e vontade de derrubar barreiras.” 

“O Abril Azul nos convida a refletir sobre o tipo de sociedade que queremos: uma que acolhe a diversidade ou que segrega. A campanha vai além da conscientização sobre o autismo — ela combate estigmas, práticas capacitistas e reforça a importância de uma inclusão verdadeira, empática e contínua. Inclusão não é um favor, é um direito. E só acontece com respeito, empatia e ações reais que derrubem barreiras. Que o mês de abril nos lembre que cuidar das minorias é cuidar de todos, um passo fundamental para construir uma sociedade mais justa, mais humana e mais solidária”. 

*Notas 

*O autismo de nível de suporte 2, também conhecido como autismo moderado, caracteriza-se por dificuldades mais significativas na comunicação e interação social, além de comportamentos repetitivos e restritos mais marcados do que no nível 1. Indivíduos com autismo de nível 2 precisam de mais apoio para lidar com as demandas do dia a dia, seja em casa, na escola ou em outros contextos. 

*Neurodivergente refere-se a pessoas cujo funcionamento cerebral difere significativamente do que é considerado padrão ou “típico”. Este termo, que se tornou mais comum nos últimos anos, reconhece a diversidade na forma como os cérebros funcionam, incluindo condições como autismo, TDAH, dislexia, entre outras. 

Assessoria de Comunicação Social 
Defensoria Pública da União