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Equipes prestam assistência aos povos de terreiros atingidos pela enchente no RS
Porto Alegre – Em uma reunião de escuta aberta, equipes da Defensoria Pública da União (DPU) estiveram com lideranças e integrantes de povos de terreiros do Rio Grande do Sul nesta terça-feira (6). O objetivo do encontro foi reunir informações sobre as demandas do grupo após a enchente registrada no estado entre os meses de abril e maio, além de articular e dar visibilidade a políticas públicas voltadas para esse grupo específico. O encontro começou às 9h, na Assembleia Legislativa do Estado, em Porto Alegre.
A reunião foi liderada pelo defensor público federal Yuri Costa, coordenador do Grupo de Trabalho Políticas Etnorraciais da DPU, e pela defensora Natália von Rondow, que integra o grupo. Mais de 50 pessoas estiveram no encontro, incluindo lideranças e integrantes de casas de religião e representantes de instituições como Ordem dos Advogados do Brasil Seccional RS (OAB/RS) e conselhos de direitos humanos.
Ao longo da semana, mais atividades junto aos grupos estão previstas, incluindo visitas em alguns espaços, como em Guaíba e Canoas.
Yuri Costa destacou que este primeiro momento foi importante para que as equipes da DPU possam se aproximar e começar a entender “a realidade pela qual as comunidades passam”, além de “ouvir demandas estratégicas e prioritárias”.
“A partir disso, junto com as demais atividades da missão, a gente pode planejar a atuação da Defensoria. Hoje, algumas demandas se destacaram nessa escuta inicial. Primeiro, vemos a necessidade de participação das lideranças e das comunidades em fóruns, em espaços de liberação. Há também a necessidade de adaptação de políticas que já existem para a reconstrução, mas que precisam se voltar a esses povos. Outra importante demanda é que esses recursos emergenciais entrem explicitamente no orçamento, ou seja, que haja um orçamento destacado, com pautas especificamente voltadas aos povos de terreiros. Com certeza, várias outras contribuições virão nesse momento do planejamento”, diz o defensor.
Conforme o Conselho do Povo de Terreiro do Estado (CPTERGS), cerca de 750 terreiros foram afetados no RS em razão da enchente — no total, a entidade estima que existam 65 mil centros em solo gaúcho.
Perdas e descaso
Na reunião, lideranças religiosas afirmam que vêm sendo deixadas de fora de projetos de reconstrução idealizados por prefeituras e governo do estado após a enchente. Alegam que não têm recebido recursos nem auxílio de governos para restabelecer os locais físicos onde atuam, afetados pela forte chuva.
Muitos centros de religião afro ficam nas próprias residências dos líderes e, por isso, são necessárias políticas públicas ou verbas específicas para a reconstrução, alegam.
No RS, há casos de terreiros que foram parcialmente destruídos e precisam ser reformados, e de locais que ficaram totalmente prejudicados e precisam ser reconstruídos em outro lugar. Também há necessidades de alimentos, remédios e demais itens, como fraldas. Há, ainda, objetos que foram perdidos, como imagens e plantas.
Além de perdas materiais, há também as espirituais, segundo o grupo. As lideranças pontuam que integrantes dessas religiões precisam de atendimento psicológico e demais encaminhamentos, em razão dos traumas e perdas causados.
Ya Itanajara de Oxum, liderança de um terreiro na zona leste de Porto Alegre, lembra que, durante a enchente, chegou a abrigar cerca de 32 pessoas no local. O grupo havia sofrido intolerância religiosa em um abrigo e por isso foi para o terreiro.
“Muitas das casas de religião, que são moradia e também são espaços comunitários, acabaram abrigando famílias. Esses territórios viraram pontos de abrigo, porque muitas pessoas estavam sofrendo discriminação, hostilidade, racismo religioso, dentro dos abrigos.”
Ela pontua ainda que vários dos problemas enfrentados após a enchente já existiam antes, e se agravaram ainda mais, como o preconceito e a falta de incentivo para religiões de matriz africana.
Foto: Bruna Viesseri / DPU
Assessoria de Comunicação Social
Defensoria Pública da União