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COP das Baixadas leva vozes das periferias amazônicas ao estande da DPU na Green Zone

Foto: ASCOM DPU

Belém (PA) – “A COP das Baixadas não começa com a COP30, assim como não acaba com a COP30.” A fala de Ruth Ferreira, cofundadora da iniciativa, foi destaque no painel “COP das Baixadas: manifesto vivo de pessoas e territórios”, realizado na manhã desta quarta-feira (19) no estande da Defensoria Pública da União (DPU) na Green Zone.

Mediado pela defensora pública federal Marina Mignot, o encontro apresentou o movimento COP das Baixadas, que atua com educação climática, ações culturais, mobilização comunitária, esporte e lazer nas periferias de Belém. A defensora destacou que o movimento tem como missão fortalecer narrativas de defesa da Amazônia, ampliar a justiça climática e social e construir, de forma coletiva, “a conferência que queremos”, uma conferência feita com e pelos territórios.

Ao introduzir o painel, Marina Mignot reforçou que o “manifesto vivo de pessoas e territórios” busca levar ao debate oficial as vozes, soluções e demandas que emergem das comunidades: “Esse painel traz as vozes, as soluções e as demandas do território para esse espaço de discussão. E isso será feito pela cultura, pela oralidade e pela coletividade, porque não existe debate climático sem o território.”

Ao abrir espaço para essa escuta, a DPU reforçou sua atuação de ampliar a participação social de grupos periféricos na COP30.

Vozes dos territórios

Durante sua fala, Ruth Ferreira destacou que a força da COP das Baixadas está enraizada nas comunidades de Belém e das regiões insulares. Para ela, a importância do movimento vai além da presença na conferência: reside no legado que retorna às comunidades.

“A gente quer trazer visibilidade às soluções que já estamos fazendo. O que vai contar mais é a escuta de vocês, a demanda de cada território, para entender o que vai ficar dessa COP30 e o que vai mudar na nossa vida a partir dessa conferência.”

Lana Larrá, da Rede Paraense de Pessoas Trans, trouxe ao painel uma crítica contundente sobre a ausência de grupos vulnerabilizados nos debates climáticos oficiais. Em sua intervenção, denunciou a invisibilização de quem vive e resiste na Amazônia.

“Está hoje o espaço da COP30, onde a Amazônia, os nossos corpos e nossas corpas mais vulnerabilizados, não estão sendo ouvidos. Estão vendendo a Amazônia na cara de quem vive, de quem resiste dentro dessa Amazônia. Estão negociando sobre territórios, estão negociando sobre as nossas vidas, estão negociando sobre nossos corpos e corpas, que têm que lutar para sobreviver em uma sociedade machista, racista, transfóbica. Uma sociedade que comete racismo religioso e que mata os povos indígenas, quilombolas, ribeirinhos, e que não dá voz.”

A dimensão territorial da luta climática foi reforçada pela manifestação de Samara Cheetara, do coletivo Na Cuia, que lembrou a urgência de proteger comunidades ribeirinhas e periféricas. “Não há como falar sobre território sem falar sobre a vida de quem estava no território. Essa COP vai passar e nós precisamos garantir a permanência desses povos e comunidades dentro do território. Eu quero que a Melissandra consiga viver perto do filho dela. Eu quero que ela tenha essa dignidade de vida. Nós não precisamos ficar saindo dos nossos territórios”, disse.

A programação também levou ao estande manifestações artísticas que evidenciaram a força cultural das periferias amazônicas, com performances, música, poesia e expressões identitárias que reafirmam a arte como instrumento de denúncia e mobilização.

Coletivos presentes

O painel também reuniu representantes de diversos coletivos e iniciativas comunitárias. Estiveram presentes integrantes da Comunidade da Paz, entre eles Suziane Carvalho e Ana Rita Ferreira; do MIRI, como Neila Santos e Aline Gama; e do coletivo Na Cuia, com Samara Cheetara. Participaram também comunicadoras do Comitê de Comunicadores Populares, como Maré Cheia (Samily Silva), além de artistas e mestres de carimbó e cultura periférica — Mestra Neya (Jangada Encantada), Mestra Nita, Márcia Smith e Jhonnatha Machado.

Houve intervenção artística de Clever Santos e performances de Liandra Cruz Coelho, Noah Gabriel da Costa Aracati, Melissa Gabriela Feitosa de Souza, Ramon Vasconcelos e Klaus Miguel.

A organização Pedala, Mana! participou com Fabíola Viana, Maili Bernadete, Renata Lira, Rejane Manuela Favacho e Naíse Costa. O Observatório das Baixadas foi representado pela pesquisadora Beatriz Ribeiro. A Rede Casa Cura participou com Htadhirua e Lana Larrá, além de intervenção artística do grupo Mulambra. Também marcaram presença representantes do Paraciclo, como Rú Costa; do Cuité da Marambaia – Boi Vagalume; e do Gueto Hub, entre eles Ruth Ferreira e Esmael Maciel.

Sobre a COP das Baixadas

Fazer com que a população seja ouvida e participe da formulação de políticas de enfrentamento às mudanças climáticas é o objetivo central da COP das Baixadas, rede formada por coletivos e organizações comunitárias das periferias de Belém, cidade que sedia a COP30. O grupo surgiu no Coração dos Jurunas, território de memória, resistência e organização popular, e hoje reúne cerca de pelo menos 10 iniciativas dedicadas à justiça climática.

Para ampliar essa estratégia de participação popular, a rede criou as Yellow Zones (Zonas Amarelas), espaços comunitários que fazem alusão às áreas oficiais da conferência – Blue Zone (Zona Azul), onde se reúnem os negociadores oficiais, e Green Zone (Zona Verde), espaço oficial com debates da sociedade civil, empresas e organizações. Elas já aconteceram na Barca Literária, Casa Samaúma, Gueto Hub, Mirante da TF, Pedala Mana, Chibé e Fundação Escola Bosque.

A proposta é clara: a crise climática só pode ser enfrentada com os territórios, reconhecendo que as periferias amazônicas são protagonistas e não coadjuvantes das soluções que surgem da própria Amazônia.

Assessoria de Comunicação Social
Defensoria Pública da União

Assista ao painel: