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XIV Seminário Tumba Junsara celebra história de resistência religiosa no Rio de Janeiro

Rio de Janeiro – Com o objetivo de fortalecer a identidade e as vivências dos povos de terreiro e promover a conscientização de direitos e o combate ao racismo religioso, o Grupo de Trabalho em Políticas Etnorraciais (GTPE) da Defensoria Pública da União (DPU) organizou, em parceria com a Associação do Terreiro Tumba Junsara (AbemTumba), o Museu da República e o Ministério Público Federal (MPF), o “XIV Seminário Tumba Junsara: Redescobrindo sua História”. O evento reuniu praticantes de religiões de matriz africana, na tarde do dia 13 de junho, nos jardins do Museu da República, no bairro do Catete, Rio de Janeiro (RJ).

Legado, resistência e religiosidade compõem a essência do Terreiro Tumba Junsara que fica em Salvador (BA) e está entre os mais antigos de tradição Angola no Brasil. Em 2008 aconteceu a primeira edição do seminário e desde então ele foi realizado em diversos espaços para além do terreiro, sempre na busca por conectar a comunidade candomblecista de todo o país, inclusive trazendo palestrantes de Angola e França.

Ubuntu e Kinsa

Os temas escolhidos para a edição em 2023 foram “Ubuntu: eu sou porque nós somos” e “Kinsa: cuidaremos uns dos outros” e foi a partir das definições dessas palavras que se desenvolveram as apresentações do dia. Esses conceitos africanos reforçam a ideia de que todos os seres humanos formam uma parte inseparável do tecido que forma a humanidade, o que remete ao cuidado e troca entre o humano e Nkisi e os humanos e a sua ancestralidade. Ao evocar o Kinsa-kanda dentro de um terreiro, a comunidade é convocada a se cuidar e a cuidar dos seus irmãos. A união das palavras Ubuntu e Kinsa é um convite para todos cuidarem da comunidade, do coletivo.

A abertura do evento foi feita pelo diretor do Museu da República, Mário Chagas, que chamou a matriarca do terreiro Tumba Junsara, Mam’etu Mesoeji, para entoar cânticos acompanhada pelos atabaques e “ocupar o Museu da República, lugar da brancura, para avivar ali outra memória”. A partir de então, cada um dos palestrantes demonstrou como o cotidiano de sua área de atuação está relacionada aos conceitos Ubuntu e Kinsa.

A nutricionista Keli Cristina Coutinho falou sobre “Política nacional de saúde integral em povos de comunidades tradicionais de matriz africana”, já a assistente social Vera Macedo abordou o tema “Cuidar da vida: Um olhar sobre os direitos sociais inspirado na cosmovisão Congo-Angola”. O escritor Tata kia Nkisi Ngunzetala contou sobre “Vivências no território angolano” e o representante da deputada estadual do Rio de Janeiro Dani Balbi falou sobre “Transexualidade”.

Por fim, a defensora pública federal Natália Von Rondow, coordenadora do GTPE, palestrou sobre “Assistência jurídica aos povos de comunidades tradicionais de matriz africana” e o procurador da República Julio José Araújo Jr. abordou o “Combate à Intolerância Religiosa”. Ao final do seminário, os cânticos deram o tom do evento que celebrou também o aniversário de 104 anos do Terreiro Tumba Junsara, criado na Bahia em 13 de junho de 1919.

O “Seminário Tumba Junsara: Redescobrindo sua História” é uma iniciativa para contribuir com preservação e perpetuação da história e do legado das religiões de matriz africana. Os legados ancestrais e culturais guardado nos terreiros de candomblé são de extrema importância, não apenas para o povo preto diaspórico, como também para o povo africano que sofreu com a colonização. Por isso, a promoção de intercâmbios culturais com entidades representantes, artistas e autoridades afro-religiosas é tão importante.

Tumba Junsara

O terreiro de candomblé Tumba Junsara, no bairro do Engenho Velho de Brotas, em Salvador (BA), possui 104 anos de história de resistência religiosa e está entre os mais antigos de tradição da Angola no Brasil. Fundado em 1919 por Manoel Rodrigues do Nascimento (dina Kambambe) e Manoel Ciriaco de Jesus (dijina Nlundyamungango), o espaço religioso é um símbolo vivo da nação Congo/Angola no país. Atualmente liderado pela Mametu Dya Nkise, ou Nengwa, Mesoeji, Sra. Iraildes Maria da Cunha, o Tumba Junsara segue sendo um espaço religioso histórico que fomenta a construção de diálogos importantes para os povos de comunidades tradicionais de matriz africana.

O espaço centenário foi tombado em 2018 pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e pelo Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia (IPAC) como Patrimônio Cultural Brasileiro. O Tumba Junsara tem destaque por ser um terreiro matriz, que deu origem a outros barracões, sendo considerado um terreiro matricial, ou seja, um dos terreiros matrizes que gerou uma série de outros terreiros espalhados pelo país.

No barracão são reverenciadas as divindades africanas, que são os “inquisses”, e os ancestrais indígenas. A junção é chamada de milonga, é um caminho para manter a força da religião. O terreiro é a história viva da cultura afro-brasileira e afro-indígena e, também, dos movimentos de resistência do povo de terreiro e do povo negro.

Assessoria de Comunicação Social
Defensoria Pública da União

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