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No Dia da Consciência Negra, DPU lança exposição Infância nos Terreiros em Brasília

Brasília – A Defensoria Pública da União (DPU) lança, nesta segunda-feira (20), Dia da Consciência Negra, a exposição “Infância nos Terreiros: crianças plurais, morada singular”, no Museu de Arte de Brasília. O período de visitação vai até o dia 7 de dezembro.

A mostra reúne fotos de crianças em posições de protagonismo em rituais do Candomblé. As imagens foram feitas pela fotógrafa e professora Stela Guedes Caputo, ela própria uma praticante do Candomblé no terreiro Ilê Asé Omi Lare Iyá Sagbá, em Duque de Caxias, no Rio de Janeiro.

O objetivo da exposição é combater o racismo religioso por meio da arte e da cultura, especialmente a discriminação contra as crianças. Caputo, na mostra, busca ajudar na construção de um “patrimônio imagético” das crianças negras.

“Qual a representação imagética das crianças negras através da história? No período em que esteve no Brasil, entre 1816 e 1834, o pintor Jean Baptiste Debret produziu imagens de crianças escravizadas associadas a animais domésticos. Uma herança imagética racista que a mídia perpetua, não mais no contexto da escravização, mas no da criminalização”, explica a fotógrafa.

“Precisamos construir um outro patrimônio imagético que mostre a criação, os conhecimentos, a alegria, a proteção dessas crianças em seus terreiros. Essa é a concepção das fotos e das pesquisas que faço e, portanto, das exposições que resultam delas”, completa Caputo.

No ano passado, a Rede Nacional de Religiões Afro-Brasileiras e Saúde (Renafro), em parceria com o terreiro Ilê Omolu e Oxum, lançou a pesquisa “Respeite o Meu Terreiro” que faz um mapeamento dos casos de racismo religioso contra as crenças de matriz africana no país.

O estudo informa que 91,76% das lideranças de terreiro consultadas ouvem regularmente seus filhos e filhas de santos relatarem que sofreram alguma forma de racismo religioso. Ademais, 48,23% dos terreiros sofreram de um a cinco episódios de racismo religioso nos últimos dois anos; 4% deles, sofreram de seis a 10 ataques; e, outros 4% sofreram mais de 10 ataques.

A defensora Natalia Von Rondow, coordenadora do Grupo de Trabalho em Políticas Etnorraciais da DPU, afirma que a obra da fotógrafa, fruto de uma trajetória de pesquisa acadêmica, “busca através de um patrimônio imagético contra colonial combater a ideologia do racismo e reconstruir através do protagonismo das crianças e dos adolescentes um discurso de resistência e orgulho da tradição viva desses espaços”.

“A obra da fotógrafa e pesquisadora demonstra também o quanto essas crianças são expostas à violência do racismo religioso, especialmente nas escolas. A partir do olhar da infância nos terreiros, esta exposição é uma ação fundamental de enfrentamento ao racismo, religioso e institucional, e desestabilização das lógicas coloniais que, certamente, afetam as crianças”, conclui a defensora.

Roda de conversa

A exposição contará ainda com uma roda de conversa entre Stela Guedes Caputo, Natalia Von Rondow, e pessoas que pesquisam religiões de matriz africana. O debate acontecerá no dia 30 de novembro, a partir das 17h. O encontro deve durar 1h30min, com direito a uma apresentação artística.

A INFANCIA NOS TERREIROS CONVITE POST

A exposição

Stela Guedes Caputo fotografa terreiros por todo o Brasil. O método da pesquisadora consiste em passar alguns dias em um mesmo terreiro, às vezes chegando a ficar 15 dias no mesmo lugar. Nessas visitas, busca perceber as crianças que participam das celebrações.

“Não gosto de foto posada, não significa que não as faça, até porque as crianças gostam de posar para fotos. Mas busco compartilhar seus cotidianos, como interagem no terreiro com os adultos e com outras crianças, como aprendem e ensinam, como se preparam e participam dos rituais, como brincam. Como se relacionam com os orixás, os eguns e os encantados”, explica a fotógrafa.

Desse encontro, surgem as fotografias, “tudo com muita ética, conversa, consentimentos dos pais, das próprias crianças e de seus responsáveis espirituais”, destaca.

Stela, além de fotógrafa, é professora do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), onde coordena o Grupo de Pesquisa KéKeré. Além disso, Caputo é autora do livro “Educação nos Terreiros e como a escola se relaciona com as crianças de Candomblé”, que tem como foco as crianças e sua inserção nos terreiros, em uma relação identitária, de aprendizado e pertencimento étnico-racial.

Assessoria de Comunicação Social
Defensoria Pública da União